quarta-feira

ORIGENS E DESENVOLVIMENTO

“Em 01 de julho de 1970, no City Hospital de ARICA, no Chile, 54 norte-americanos, a maior parte deles de Esalen e Big Sur, iniciaram um treinamento intensivo de 10 meses, supervisionado por um boliviano chamado Oscar Ichazo...”
“... Seu primeiro grupo de estudantes era chileno de Santiago, onde ele deu palestras no Instituto para Psicologia Aplicada. Quando Ichazo se mudou para Arica, alguns desses estudantes se mudaram para lá com ele, e se tornaram seus assistentes nos trabalhos com o grupo norte-americano...”.
“... Depois de seis meses de exercícios introdutórios, iniciou-se uma nova fase de treinamento intensivo para o grupo norte-americano. Nesta época, cinco membros do grupo original, incluindo Cláudio Naranjo, foram separados para treinamento posterior...”.
“... Todo o treinamento no Chile acabou em abril de 1971 e o grupo retornou aos EEUU...”.
“... Com 44 membros do grupo original e Ichazo, foi instituído o Instituto Arica na América, em New York, e em 01 de outubro de 1971, foi ministrado para 76 estudantes, na Marriott’s Essex House, Central Park Sul, o primeiro” Arica Trainning “, com duração de três meses”.
“A partir daí foram oferecidos treinamentos especiais para aqueles que terminaram o curso de três meses e, em seguida, um treinamento para formar professores, que, a partir do final de 1972, já eram cerca de 250, com centros em New York, San Francisco, Sta. Monica, e programa de treinamento em diversas cidades...”.
Estes são pequenos trechos extraídos de um relato intitulado “O Treinamento Arica”, elaborado por John C. Lilly e Joseph E.Hart (membros do grupo original) publicado em Transpersonal Psychologies, coletânea organizada por Charles Tart, editada por Routledge and Kegan Paul, London, 1975.
Neste mesmo artigo, os autores dizem:
“... Existe alguma indicação que Ichazo se tornou um membro de uma Escola Sufi no Afeganistão, mas deixou a escola para retornar a La Paz, na Bolívia. Certamente ele se submeteu à influência da Escola que ensinou Gurdjieff, pois tanto Oscar como grupos Gurdjieffianos, usam o instrumento dervixe da figura de nove lados, o Eneagrama, embora Oscar afirme ter trabalhado os significados e usos antigos do Eneagrama, ele mesmo”...
Entre o Eneagrama apresentado por Gurdjieff e o de Ichazo, existem mais relações que o simples desenho, embora somente o desenho já fosse bastante significativo.
Esse termo, Eneagrama, do grego ENEA= nove e GRAMA= desenho ou ponto, foi apresentado por Gurdjieff na década de 20, e, segundo ele, por mais que o estudante de ocultismo procurasse não encontraria esse símbolo em lugar algum, nem desenhado nem exposto de forma oral, o Eneagrama era exclusivo do seu ensinamento.
Sobre o desenho em si, podemos remeter o leitor para o livro: Documentos de Comunidades Dervixes Contemporâneas - Ediciones Kalendar, Argentina, 1968 - onde no artigo - Reseña de la Hermandad Sarmoun - Desmond Martin relata suas experiências numa comunidade sufi ao norte do Afeganistão.
E ainda, no livro Textos Sufis publicado pela Editora Dervish, do Rio de Janeiro, onde o mesmo autor, num artigo intitulado: Aos pés do Hindu Kush, entre outras coisas, relata:
“...Sobre um muro recoberto de branco mármore afegão, brilhava o símbolo da comunidade, traçado com rubis polidos. Este é o místico” “No-Koonja”, o eneágono NAQSH ou “Sinal”, um emblema que mais tarde eu veria de várias formas. Segundo me foi informado, esta figura revela o segredo mais interno do homem...”
Ainda sobre a ligação entre o Eneagrama e as escolas Sufis, no mesmo livro (Textos Sufis-pág. 103) há um artigo intitulado Reconhecimento, onde o autor realça essa ligação.
Independente do desenho, outros aspectos do “Arica Trainning” se assemelham ao “Trabalho” de Gurdjieff, como por exemplo: a divisão didática do homem em 3 grandes centros (Instintivo, Emocional e Intelectual), o estudo dos desequilíbrios provocados pela hiperfunção de um centro em detrimento dos outros etc.
Aqui cabe uma ressalva:
Gurdjieff foi um ex-aluno de uma Escola da tradição Sufi, mas embora uma personalidade fascinante e divulgador de um Trabalho de impressionante profundidade, não era um Mestre da Tradição Sufi e seu conhecimento sobre o Eneagrama ( No-Koonja) era limitado. O Eneagrama conforme esboçado no livro de Bennett continua, ainda hoje, um conhecimento reservado dos mestres sufis. A utilização do Eneagrama como uma Tipologia, onde cada ponto no Eneagrama corresponde a um padrão de respostas singulares, só é conhecida a partir de Oscar Ichazo e, a meu ver, o mérito de sua divulgação e propagação em escala mundial, se deve ao psiquiatra chileno CLAUDIO NARANJO, que, com seus conhecimentos, talento e capacidade de exposição, conseguiu integrar o Eneagrama apresentado por Ichazo ao conhecimento psicológico moderno, de forma que o sistema básico de Tipos de Personalidade pode ser aprendido sem ser necessário o contexto de um Treinamento Arica.

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